Primeiro estranha-se e depois entranha-se. A conhecida frase/slogan de Fernando Pessoa só surgiu anos depois do nascimento do “Foot-ball Club de Gaia”, mas carateriza a motivação que deu origem a este clube, em 1908, pelas mãos de um dos seus fundadores mais carismáticos.
Manuel dos Santos, no auge dos seus 15 anos, estudante num dos liceus do Porto, começou a apreciar o desporto jogado maioritariamente com os pés, trazido para a Invicta pelos ingleses, tendo assistido ao nascimento dos primeiros clubes de futebol, como o FC Porto, o Boavista FC e o Leixões Sport Club. «Também eu fui movido pela curiosidade e tomei gosto pelo novo divertimento». A este entusiasmo demonstrado pelo jovem gaiense juntou-se o interesse de outros, que de imediato «pensaram em formar um grupo na Serra do Pilar que pudesse enfrentar outros grupos já formados».
Manuel dos Santos e o seu grupo de fervorosos adeptos de futebol encontraram, nos terrenos anexos ao Campo Militar da Serra do Pilar, «lá no fundo, o chão plano que servira de redondel à Praça de Touros», o local ideal para construir o primeiro recinto de jogo do FC Gaia. Meteram mãos à obra e em dois meses «o campo duro como um osso e limpo como um salão de baile» estava pronto para os pontapés iniciais dos gaienses contra as congéneres portuenses. Porque a agremiação pedia uma sede, Manuel dos Santos demonstrou todo o seu pragmatismo ao disponibilizar um «cubículo do armazém da carqueja da padaria» dos seus pais.
«Foi assim que nasceu o Foot-ball Club de Gaia e d’ele irradiaram todos os outros, senão pelos seus componentes, ao menos pela ideia que o criou. E foi o único serviço que à minha vila de Gaia prestei pela vida fora.» As palavras são do Tenente Manuel dos Santos, na edição de 1933, da publicação “O Gaia”, e refletem o voluntarismo e entrega que os fundadores do FC Gaia colocaram na sua edificação.